A directora do Instituto Nacional do Património Cultural, Cecília Gourgel, garantiu, na quinta-feira, que o Cine Teatro Nacional, localizado na Baixa de Luanda, vai sofrer obras de restauro brevemente, tendo beneficiado de um financiamento que visa a sua recuperação nos próximos meses, depois de mais de cinco anos encerrado.
“Conseguiu-se um patrocínio e o Cine Teatro Nacional será restaurado. Nós, enquanto ministério de tutela, estamos a velar para que tudo corra bem e não se altere absolutamente nada da estrutura arquitectónica desta emblemática casa de cultura da cidade de Luanda”, sublinhou.
A directora do Instituto Nacional do Património Cultural, afecto ao Ministério da Cultura, anunciou a iniciativa durante o debate “Soluções para a Preservação do Património Arquitectónico Angolano – Demolir ou Restaurar?”, promovido pelo Instituto Cultural Alemão em Angola “Goethe”, acolhido no Cine São Paulo, em Luanda, inserido no vasto programa do festival internacional “O Futuro Já Era”, que decorre desde 15 de Junho a 28 de Julho.
Cecília Gourgel observou que a Baixa de Luanda tem muitos edifícios emblemáticos que requerem um olhar atento, dentre estes, o edifício que alberga a sede da União Nacional dos Artistas Plásticos e a antiga livraria Lello. A directora do Instituto Nacional do Património Cultural sublinhou que se trata de um edifício belíssimo no interior e exterior e carregado de muita história, razão pela qual frisou ser preciso conseguir conjugar esforços para a preservação, promoção e restauro do património edificado não apenas da Baixa de Luanda, mas também das demais províncias do país.
“Temos um projecto de preservação das zonas históricas de todas as províncias do país, que ainda está por ser executado. A ideia é iniciar no Município do Ambriz, na província do Bengo, que tem sítios interessantes. Estamos em busca de financiamento para que todo o projecto de preservação das zonas históricas de todo o país seja concretizado”, explicou.
Uma das questões levantadas pela directora foi a escassez de quadros no sector, referindo que o Instituto Nacional do Património Cultural deveria ter pelo menos cerca de 50 funcionários, mas neste momento tem apenas um total de 13, sendo destes apenas 5 técnicos, dos quais nenhum arquitecto. Como alternativa à falta de quadros, disse que actualmente têm recebido apoio da Universidade Lusíada de Angola, através da Associação Kalu, que tem apoiado na inventariação, classificação e mapeamento de algum património cultural nacional edificado, sendo um assunto que envolve a participação de outras pastas ministeriais, como é o caso do Ministério do Turismo.
“Antes do apoio da Universidade Lusíada de Angola, tivemos um grande apoio do Departamento de Arquitectura da Universidade Agostinho Neto, tanto que muitos deles fizeram estágios no Instituto Nacional do Património Cultural. Talvez devido à aproximação, visto que estamos na Mutamba, criou-se, posteriormente, essa relação com a Universidade Lusíada de Angola”, recordou.
A directora avançou os projectos do ministério de tutela sobre a histórica cidade de Mbanza Kongo, antiga capital do Reino do Kongo, fundada no século XIII, por Nimi A Lukeni, cuja influência se estendia para algumas regiões dos dois Congo e do Gabão, tendo sido elevada a Património Cultural Mundial, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), a 8 de Julho de 2017, neste que foi o primeiro bem cultural de Angola a atingir este estatuto. Cecília Gourgel referiu que existe um plano de gestão da cidade Mbanza Kongo em curso desde 2022, que contempla mais escavações arqueológicas que deverão prosseguir posteriormente.
O turismo como solução financeira
A arquitecta Susana Matos, nas vestes de moderadora do debate, defendeu que o turismo pode ser a grande solução financeira para a manutenção dos bens edificados nas cidades do país.
Susana Matos sustentou que o valor pago pelos turistas pode ser revertido directamente para a melhoria e preservação destes bens. Entretanto, destacou que deve haver um investimento inicial no sector, para ser preciso criar equilíbrio entre as necessidades da arquitectura actual e a preservação necessária daquilo que é antigo. “Pode se fazer de um antigo palácio um hotel de charme e moderno, e o turista vem e paga para ficar, para rapidamente recuperar o valor investido. O turismo tem uma grande importância neste processo, desde que seja feito de maneira sustentável”, disse.
A linguista Cesaltina Kulan- da, uma das oradoras do debate, reiterou que o turismo tem esse potencial, embora seja preciso especificamente dar um olhar especial para a vertente cultural, composta pela riqueza linguística, danças e figuras da cultura.
JA