A violência perpetrada pelos extremistas islâmicos no norte de Moçambique diminuiu 71% em 2023, revelou hoje o Africa Center for Strategic Studies (ACSS), que atribui a queda à ofensiva lançada pelas forças da SADC e do Ruanda.
O número total de incidentes violentos registados pelo instituto de análise norte-americano no norte de Moçambique foi 127, com 260 mortes resultantes dos mesmos. Não obstante, “850.000 pessoas deslocadas internamente ainda não regressaram a casa”, escreve o ACSS.
“Isto é atribuível à ofensiva do ano passado pelas forças da SADC e do Ruanda, destacadas em julho de 2021 para ajudar o exército moçambicano a desalojar os extremistas das cidades de Palma e Mocimboa da Praia”, segundo o instituto sedeado em Washington.
Aquelas forças “conseguiram recuperar o controlo de 90% do território” controlado pelos insurgentes da Ahlu Sunnah wa Jama’a (ASWJ, grupo conhecido como al Shabaab), “expulsando os sobreviventes para as zonas rurais do distrito de Macomia, onde agora operam em pequenos grupos sem bases, realizando ataques aleatórios contra civis”, acrescenta a infografia do ACSS.
No ano passado, registou-se uma redução de 80% da violência contra civis, número considerado “particularmente notável” pelo instituto, uma vez que a violência dos militantes islâmicos no norte de Moçambique sempre se caracterizou por níveis elevados de violência contra civis.
No ano passado, 23% das mortes no norte de Moçambique foram atribuídos à violência contra civis, com 53 ataques contra civis e 61 mortes, um registo que compara com 286 ataques e 438 mortes em 2022.
“A questão para este ano será, portanto, se este progresso pode ser mantido, dada a resiliência dos militantes nesta região”, conclui o ACSS, considerando “importante abordar as queixas que são as causas profundas da instabilidade em Cabo Delgado”.
Em contracorrente com o registo em Moçambique, o número de mortos em consequência da violência dos grupos extremistas islâmicos no continente continua a aumentar – mais 20% em 2023, para um total de 23.322 (contra 19.412 em 2022) -, sendo que mais de 80% das mortes ocorreram no Sahel e na Somália. O número de mortes em 2023 duplica o registado em 2021.
As mortes ligadas à violência por militantes islâmicos aumentaram 20% este ano, de 19 412 em 2022 para um novo recorde de 23 322 no ano passado, número que representa uma duplicação do número de mortes em 2021.
O Sahel (11.643 mortes, mais 43% do que em 2022) e a Somália (7.643, mais 23%) foram os palcos mais violentos de mortes por extremistas islâmicos em todo o continente, responsáveis por 83% das mortes registadas em 2023.
As mortes no Sahel representam 50% das mortes registadas em África atribuíveis a militantes islâmicos em 2023. A título de comparação, as mortes registadas em 2020 no Sahel e atribuíveis a militantes islâmicos representavam 30% das mortes registadas em África nessa altura, aponta o ACSS, salvaguardando que os números podem ser ainda maiores.
O instituto norte-americano sublinha que a “dramática redução do espaço mediático” na região impede a divulgação da insegurança crescente no Mali, Burkina Faso e Níger desde os golpes de estado nestes países entre 2020 e 2023, justificados pelas respetivas juntas militares, precisamente, pelo fracasso dos respetivos governos eleitos no combate ao extremismo islâmico violento.
A maior parte do aumento das mortes registadas na região é atribuível à coligação Jama’at Nusrat al Islam wal Muslimin (JNIM), que inclui a Front de libération du Macina e o grupo Ansaroul Islam. Esta coligação está associada a um aumento de 67% do número de mortes registadas para um total de 9.195, contra 5.499 em 2022.
A coligação JNIM está associada a 81% da violência dos extremistas islâmicos no Sahel.
Em contrapartida, as mortes associadas ao Estado Islâmico no Grande Sara (EIGS) diminuíram 7% em 2023, para um total de 2.448 mortos registados.
Já na Somália, o segundo palco mais vulnerável à violência do extremismo islâmico em todo o continente, os eventos violentos foram todos atribuíveis à al Shabaab, sendo que a sua maioria (65%) está relacionada com combates entre as tropas do governo somali e as forças do movimento islâmico.
O conflito, combinado com a seca e as inundações, contribuiu para que 4,3 milhões de pessoas tenham sido expostas à insegurança alimentar.